Autor: Rubens Junior | Facebook | Twitter
"Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem."
João 4.23
Não sou músico. Embora já tenha me iniciado em aulas de teclado, violão e canto, sempre priorizei meu tempo à arte visual e não musical. Mesmo assim, já participei de diversas palestras, seminários, cultos e ministrações de música cristã, os famosos cultos de Louvor e Adoração, os quais sempre usam João 4.23 como referência para ensinar o que seria um "verdadeiro adorador". Mas, em todo meu tempo de conversão, esta charge foi a melhor explicação que já encontrei, dentre tantas pregações, do que seria este "verdadeiro adorador" com base neste versículo. Eu mesmo, em algumas ministrações, já cheguei a comentar que o mundo físico (o que vemos, ouvimos, etc) não importa muito para Deus. Senão os surdos e mudos jamais poderiam ser considerados "verdadeiros adoradores", musicalmente falando. Por isso fiquei muito impactado quando vi esta charge, pois representa exatamente o que acredito e, no final das contas, uma imagem realmente vale mais que mil palavras.
Esta charge também me fez lembrar uma história bem antiga, mas muito importante para meu crescimento espiritual:
Nos tempos de colégio, quando estava na faixa dos 17 aninhos, costumava passar meus horários livres com os mesmos amigos do colégio, onde eu era o único cristão, ou, acreditava ser. Pois acabei descobrindo que uma das garotas do grupo tinha uma história com Deus. Descobri isso em uma noite que estávamos reunidos em frente ao apartamento dela, conversando sobre "histórias assustadoras". Começamos a falar da existência e contar histórias de demônios. Mesmo os não cristãos, sabiam que existe um mundo espiritual que é bem real, devido a histórias ocorridas com tias, primos e outros familiares. Até que esta minha amiga contou um testemunho! Pois é, não uma história, um testemunho do que ela mesmo viveu. Ela contou que, quando era mais nova, costumava frequentar com sua família a igreja de seu tio, que era pastor. E ela era bem conhecida na igreja pois tinha diversas visões espirituais, as quais eram reveladas durante os cultos - vai vendo... Até que uma certa noite, após um culto maravilhoso, ela acordou de madrugada, e viu literalmente um homem entrando em seu quarto, caminhando em sua direção. Ela contou esta história tremendo, pois disse que, embora estivesse acostumada a ter visões e, entre elas, havia visto até o próprio inferno, ela nunca teve medo e sempre dormiu tranquilamente, pois sabia que Deus era maior que todas as coisas assustadoras que via, e Ele estava com ela. Porém, naquela madrugada, ela estremeceu vendo aquele homem entrando no quarto pois, embora muito belo, ele tinha uma expressão tão diabólica em seu rosto, que a deixou apavorada, impedindo-a de dormir. Ela disse que tinha certeza que aquele era o próprio diabo. Esta foi a última história que contamos naquela noite, pois só esta já fez todos gelarem as canelas o suficiente.
A noite, as histórias, não me impressionaram tanto. Como já era cristão e já estava acostumado com estas histórias, o que realmente mexeu comigo foi tentar entender como uma garota tão imersa no mundo cristão acabou ficando tão distante das coisas de Deus, a ponto de eu mesmo, convivendo com ela diariamente, não perceber nenhum vestígio de cristianismo nela até aquela noite. Decidi então que iria ajuda-la a retornar aos caminhos de Deus. Comecei a conversar mais, perguntar mais, convida-la aos meus sagrados domingos na igreja, mas nada adiantou. Esta minha mudança só fez com que ela se afastasse de mim. Então percebi que havia ocorrido algo muito sério e impactante na realidade dela, que a fez perder as esperanças no evangelho. Então optei por não pressioná-la mais (já que eu não tinha experiência nenhuma para resolver o assunto), e valorizei apenas nossa amizade.
Embora não a tenha mais pressionado, este assunto ficou na minha cabeça e, mesmo após o colégio, resolvi visita-la de tempos em tempos, para conferir se havia alguma mudança ocorrida "naturalmente" em sua vida espiritual. Até que um belo dia, em uma destas visitas, ela me disse que havia voltado aos caminhos de Deus, que estava noiva, iria se casar na igreja do seu tio, a qual estava congregando, e estavam construindo uma casinha nos fundos da igreja, que também era uma casinha em construção, e seu noivo e a família dele haviam se convertido no processo, e as novidades nunca acabavam.. Demais! Eu fiquei maravilhado com as notícias! Ela estava me contando muito empolgada pois havia entendido o porque eu ainda a visitava sempre, e sabia que eu realmente ficaria feliz com as notícias, diferente dos outros amigos de colégio que tínhamos (que sempre acham estanho quando alguém se converte). Resumindo, era domingo a tarde, e ela me convidou para conhecer a igreja a qual frequentava e o pastor, seu tio. É claro que aceitei! Não perderia isso por nada!
Ela morava na zona leste de São Paulo, e fomos para igreja em um carrinho minúsculo apertado entre o noivo (dirigindo), ela (na frente) e, atrás, eu, a mãe do noivo, a mãe dela, e mais alguém que nem lembro quem era. A igreja era longe, entre os becos, buracos e vielas da longa estrada de terra. Difícil. Mas todos estavam num clima tão feliz por ser "dia de igreja", quem ninguém estava se importando com estas trivialidades. Só eu estava meio incomodado, pois nem da família eu era. Eles estavam no cotidiano deles, mas eu estava longe de casa (bem longe), indo para mais longe ainda, não sabia como iria voltar, com certeza não iria dormir na casa dela (que estava noiva), muito menos na casa do noivo que eu acabara de conhecer. Comecei a reavaliar minha decisão de aceitar o convite. "Por que fui aceitar ir na igreja dela? Já havia visto com meus próprios olhos que ela estava mudada, em outra vida bem melhor.. já comemorei com ela, e isso era o suficiente! Por que eu aceitei o convite?" Mas já estavamos no caminho e não tinha mais volta. "Bom, já que é domingo, e eu iria para igreja mesmo, vou aproveitar o culto, depois eu penso onde vou dormir" - pensei.
Finalmente, após um longo caminho pra lá da zona leste (sério, era longe), chegamos num bairro sobre um morro sem nenhum asfalto, mato ao redor e, ao sairmos do carro, estávamos em frente a uma cainha em construção, só no tijolo. "É aqui!" - minha amiga disse. A partir daí, a sequência de coisas estranhas ficou mais tangente.
A recepcionista da igreja ficava falando repetidamente e ininterruptadamente: "AleluiaAleluiaAleluiaAleluia..." Ela não parou nem para nos cumprimentar, fazendo apenas um sorriso e um sinal com a cabeça para entrarmos. Eu fiquei mesmo na dúvida se ela estava tomada pelo espírito ou se ela tinha um forte talento para falar sem respirar. Aí, ao passar por ela, me deparei com uma ambiente de igreja bem diferente do que eu estava acostumado: primeiro, nós que havíamos acabado de chegar, duas pessoas que estavam lá, o pastor e a recepcionista, éramos os únicos presentes na igreja (sendo que eu era visita). Segundo é que, fora a recepcionista, todos estavam ajoelhados orando bem alto e, ao entrar na igreja, minha amiga esqueceu de mim e foi entrando no clima do local. Não que eu não estivesse acostumado a pouca gente e a orações altas.. mas eu só me sentia confortável nesta situação com pessoas da minha intimidade, não com estranhos. Mas fiz uma forcinha e tentei entrar no clima. Como todos estavam de joelhos, o fiz também e comecei a orar. Sério, orei até meus joelhos magros latejarem. Abri os olhos, e todos ainda estavam firmes na posição. Me esforcei mais um pouco, mas acabei sentando no banco, e continuei orando sentado. Parei, quando minhas orações haviam se esgotado. Não sabia mais pelo que orar. Então abri os olhos, olhei ao redor, e parecia que os assuntos deles estavam apenas no começo. Ninguém dava indícios de que estava acabando, ou se estavam ao menos se importando com algum provável "tempo de culto". Exatamente neste momento, e somente neste momento, comecei a perceber que eu é quem estava mal acostumado, e comecei a compreender o porque Deus havia me arrastado para aquele lugar. "Bom, já que é isso que Deus quer de mim, vamos lá!" Voltei a me ajoelhar e a orar intensamente. Comecei a espremer meu cérebro buscando assuntos para orar e, aos poucos, fui encontrando. Embora ainda estivesse bem pouco à vontade no ambiente, começou a melhorar um pouquinho, pois consegui manter minha oração igual às dos outros membros. "Ufa.. Glória a Deus!" Já foi uma grande vitória para mim.
Após quase uma hora e meia de oração, o pastor se levantou devagar, abriu a Bíblia e esperou todos acabarem suas orações e, aos poucos, todos foram terminando e assentando-se. Ele leu alguns versículos e fez uma pequena pregação, de uns dez minutos. Quando pegou o violão, percebi que aquela palavra era a introdução do "momento de louvor". Ao mesmo tempo, comecei a me lembrar que, sempre que minha amiga comentava sobre seu tio, ela fazia questão de frisar o quanto o admirava cantando e tocando, o quanto ele era bom musicalmente, que o forte dele nem era pregação, e sim a música e que, quando ele cantava, ele realmente era o cara mais espiritual do mundo, e fui ouvindo este papo, inclusive, durante quase todo o percurso da casa dela à igreja. Ao lembrar disso, minhas expectativas para o sucesso da noite foram de 3,5 para 11,5, numa média onde o máximo era 10. Eu dei crédito para a opinião dela pois, no tempo de colégio, eu conhecia o gosto musical dela, e ela realmente curtia boas bandas. Embora não cristãs, as bandas eram muito boas musicalmente. Neste momento do texto aqui escrevo, após você ler tantas palavras desta longa história, finalmente chegamos ao clímax do "porque" estou compartilhando toda esta história à partir desta charge:
O CARA É O PIOR MÚSICO QUE JÁ VI E OUVI EM TODA MINHA VIDA!!! Nenhum gato esganado, nenhum passarinho engasgado, nenhum barulho de trânsito, nenhum bebê chorando, nem tudo isso elevado a milésima potência conseguiriam superar a ruindade daquele pastor ministrando música.
Após me lembrar dos grandes elogios dela quanto ao tio, e ouvir os primeiros 7 segundos dele tocando e cantando com aquele violão, eu não consegui ter nenhuma reação. Fiquei literalmente paralisado mediante ao contraste de expectativa vs realidade. Após mais alguns segundos em que fui voltando a mim, um grande sentimento de injúria se manifestou, e falei para Deus: "Eu suportei tudo até agora, mas com ESTE cara tocando e cantando É IMPOSSÍVEL TE LOUVAR!!!" No mesmo momento em que fiz esta oração, me lembrei do evangelho básico: Para Deus, nada é impossível. Então cheguei ao meu momento particular com Deus, onde já o conhecia desde os 7 anos, quando tive meu primeiro diálogo com Ele. O momento do desafio e da decisão. O momento da prova, onde você passa por diversas situações especificamente para encarar "aquele" momento. Onde você pode desistir ou se superar. Naquela época, eu sempre me vangloriava do meu cristianismo, pois nunca havia desistido de nada diante de Deus, e sempre abraçava os desafios que ele me propunha. Com certeza não seria naquele dia que eu iria desistir. Então,
enquanto ouvia o pior barulho do mundo (me recusava a chamar aquilo de música), fechei meus olhos, me concentrei, e fiz a seguinte oração:
"Senhor, agora sou eu. Rubens Junior, seu filho, de corpo e alma. Eu sinceramente estou ODIANDO este cara fazendo este barulho (principalmente porque sempre frequentei igrejas que tinham excelentes músico). Realmente não estou aguentando, e quero ir embora! Mas eu percebo e acredito sinceramente que este pastor está fazendo o melhor de si, o melhor que ele consegue, e o povo também está cantando e louvando com toda sinceridade de coração. Neste lugar, só eu estou desconectado, pois só eu estou me incomodando. Então eu quero que o Senhor faça o milagre em mim neste momento, e me torne um verdadeiro adorador, independente da música ou do barulho que há. Faça com que, neste momento, eu seja tão espiritual quanto o próprio Espírito Santo, para que nenhum incômodo dos órgãos físicos do meu corpo impeçam minha alma e espírito de adora-lo com todo sentimento verdadeiro, independente do ministro e da música ao meu redor."
Eu fiz esta oração muito sinceramente, com os olhos espremidos, sem lágrimas, mas triste, pois percebi o quanto eu estava longe de me tornar o cristão que achava que era. Comecei a tentar acompanhar a música que já conhecia, mas não conhecia "aquela" interpretação. Apaixonado por música de qualidade, foi muito difícil pra mim. Mas, aos poucos, o Espírito Santo foi tomando seu lugar em mim e, aí sim, comecei a sentir meu lado físico desaparecendo, as lágrimas começaram a sair, como saem agora enquanto escrevo...
É incrível perceber as infinitas formas como Deus fala conosco. Não há mais palavras para descrever: FOI O MELHOR MOMENTO DE LOUVOR E ADORAÇÃO DA MINHA VIDA. O violão não era afinado há muito tempo. O pastor tocava mesmo assim, e cantava mal. Mas o povo cantava alegremente, como se fossem surdos (vide o mesmo texto na charge).
Enquanto eu cantava junto com todos, com a mesma alegria que eles sentiam, consegui me conectar àquele momento. O mais espantoso de tudo, foi que eles também perceberam minha mudança espiritual, e me tornei não mais uma visita, mas sim, um membro daquela família. Fomos realmente conectados pelo mesmo Espírito. Não sei quanto tempo durou, mas cantamos muitas músicas, com o mesmo ministro, com a mesma técnica, e o mesmo violão. Ali mesmo entendi como minha amiga conseguia elogiar o tio dela musicalmente. Quando aquele pastor louvava, ele oferecia tudo que ele tinha de melhor naquelas melodias, do jeito que saiam. E, se você estivesse conectado com o mesmo Espírito Santo que ele estava, você conseguia sentir a perfeição com que o próprio Deus ouvia aquelas canções. Acredite ou não, éramos nós mesmos cantando, mas só ouvíamos um lindo coral, perfeito, harmônico, alegre, cantando com gratidão. Não havia como não gostar.
Daí para frente foi só alegria. Durante a pregação simples daquele pastor, eu gritava Aleluia e Glória a Deus como o maior pentecostal que nunca havia sido até aquele momento. Foi realmente um grande marco na minha vida espiritual passar por tudo aquilo, pois os bons frutos da decisão de ter comparecido e participado daquele culto, eu colho e desfruto até hoje.
Achei conveniente compartilhar esta "historinha", pois eu também sou da opinião de que "temos que oferecer o melhor para Deus". Porém, a definição de "melhor para Deus" está meio deturpada em muitos lugares, e ela é bem simples:
Melhor para Deus não é o melhor que o fulano ou ciclano podem oferecer, é o melhor que você tem para oferecer. Se um dia você quiser ou precisar cantar para Deus, cante o melhor que você consegue, especificamente você. Se houver alguém melhor para ministrar, melhor ainda. Mas, se não houver, é você mesmo. Não deixe de fazer algo pois, em algum lugar no mundo, existe alguém melhor que você naquela área. Pois SEMPRE haverá melhores. A questão é que Deus não enxerga assim. Ele chama a todos, e escolhe os que aceitam o chamado. Naquele dia, Deus me chamou para louva-lo e adora-lo. Eu sou ruim, o ministro era pior ainda. Todo o ambiente conspirava contra isso. Mas eu aceitei o chamado, e Ele me ajudou no processo. O mesmo vale para todas as outras áreas da vida: trabalho, família, arrumar o quarto, lavar a louça, relacionamentos, etc. Pois a Bíblia aconselha a fazermos TUDO (e tudo quer dizer TUDO) como se estivéssemos fazendo para o próprio Deus.
Aquele dia acabei dormindo na casa de alguns parentes meus, que ainda moravam próximos a casa dela. Minha amiga acabou não casando com aquele rapaz, e tomou outros caminhos. Não sei muito mais sobre a vida dela pois, após perceber que ela estava novamente nos caminhos de Deus, fiquei satisfeito e perdemos o contato pela distância.
Mas, por causa desta bela experiência, esta charge falou muito comigo. Laudo Ferreira, autor desta charge, não é cristão. Mas como todo artista, ele sabe muito bem o que é viver de transmitir ao mundo o que temos por dentro. E esta não é uma vida fácil. Não é a toa que vemos muitos artistas mendigando nas ruas. Pois, dentre a multidão, são raros aqueles que realmente se importam com o que você tem no seu interior, se importando apenas com o que tem por fora. Mas a esperança é que, um destes "raros", é o próprio Deus. E ele não só se importa, como almeja ansiosamente que seu exterior expresse todo louvor e adoração que há no seu interior, seja em música, ou em qualquer outra forma de manifestação.
Não se limite ao que você sabe e, muito menos, ao que você não sabe. Faça tudo como se fosse para o próprio Deus, e Ele mesmo o achará como um verdadeiro adorador.
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